coisas do género

Parlamento sai da idade do armário

É que embora o sistema de quotas em vigor garanta alguma participação de mulheres nas listas dos partidos, não há ainda qualquer medida que reforce a diversidade no Parlamento no que se refere às outras categorias de discriminação.

Até 2009, a história do nosso Parlamento foi marcada pela invisibilidade das pessoas LGBT.

Em 2009, Miguel Vale de Almeida tornou-se o primeiro deputado assumidamente gay, independente e eleito pelo Partido Socialista em Lisboa.
Em 2011, voltámos a não ter nenhuma pessoa assumidamente LGBT no Parlamento.
Em 2015, foi eleito Alexandre Quintanilha, assumidamente gay e cabeça de lista do Partido Socialista no Porto.
Durante a última legislatura, Graça Fonseca, então Secretária de Estado da Modernização Administrativa, tornou-se a primeira pessoa de um Governo a assumir que era lésbica (numa entrevista ao DN). Seguiu-se Sandra Mestre Cunha, deputada do Bloco de Esquerda por Setúbal, que se assumiu como lésbica (numa entrevista ao Público).
Na última legislatura, acabámos portanto por ter 2 pessoas assumidamente LGBT no Parlamento – e 1 no Governo.

Em 2019, temos mais pessoas LGBT a candidatar-se com eleição muito provável: Alexandre Quintanilha encabeça de novo a lista do Partido Socialista no Porto; Sandra Cunha é novamente candidata a deputada pelo Bloco de Esquerda em Setúbal; Graça Fonseca é agora candidata a deputada pelo Partido Socialista em Lisboa. E surgem ainda Fabíola Neto Cardoso, assumidamente lésbica e cabeça de lista do Bloco de Esquerda por Santarém; e Bruno Maia, assumidamente gay, que integra a lista do Bloco de Esquerda no Porto.
Temos, assim, uma mulher lésbica e um homem gay a encabeçarem listas (respetivamente do Bloco de Esquerda e do Partido Socialista).
E o próximo Parlamento contará assim com – muito provavelmente – pelo menos 5 deputad@s assumidamente lésbicas ou gays, num crescimento significativo.

Para este cálculo só conta, naturalmente, quem disse publicamente que era LGBT; e, apesar do crescimento, a proporção de pessoas assumidamente LGBT no Parlamento continuará muito aquém da proporção das pessoas LGBT em Portugal.

É que embora o sistema de quotas em vigor garanta alguma participação de mulheres nas listas dos partidos, não há ainda qualquer medida que reforce a diversidade no Parlamento no que se refere às outras categorias de discriminação. E aproveitamos para assinalar que 2019 marca outra viragem: é o ano com mais pessoas racializadas em lugares elegíveis.

E sim, vale a pena celebrar as saídas do armário e a aposta dos partidos que já compreendem a importância de escolher pessoas assumidamente LGBT para as suas listas.
A tendência é recente – e ainda tímida – mas faz-nos ter esperança num futuro mais inclusivo.
A idade do armário na política parece estar a caminho do fim. Já não era sem tempo.

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