coisas do género?
Este ímpeto surge de um diagnóstico: a reflexão no plano académico tipicamente não é direcionada para uma intervenção política; e, no campo do associativismo, a necessidade de apoiar as pessoas que são alvo de discriminação (e a limitação de meios) tipicamente retira espaço para reflexão estratégica.
Através do cruzamento das experiências e perceções que fomos desenvolvendo individualmente e em conjunto, e estimulando parcerias e pontes com associações, academia e outras plataformas, pretendemos maturar posições comuns e produzir argumentários sobre temas que nos parecem mais relevantes e urgentes. Queremos portanto criar debate público e gerar propostas de ação e campanhas que contribuam para eliminar mais rapidamente a desigualdade de género perpetuada por um sistema que é particularmente limitador das nossas liberdades e cuja transformação é sempre demasiado lenta.
Sabemos que há mesmo muitas coisas do género a mudar. Esperamos poder contribuir para identificarmos algumas delas – e, sobretudo, para ajudarmos a planear e a concretizar estratégias comuns que promovam a igualdade.
Isabel Fiadeiro Advirta
Academicamente, as ciências da comunicação formaram-me a visão do mundo. Sempre senti que só seria feliz a trabalhar sem fins lucrativos, e a vida tem-me provado que é mesmo isto. Laboralmente, tenho a sorte de me deixarem aplicar aprendizagens e novas ideias na cidade que amo, Lisboa.
O ativismo tem sido fundamental na minha vida. De todas as possíveis formas de ajudar a mudar o mundo, escolhi mergulhar na defesa de Direitos Humanos em geral, questões de género e de orientação sexual em particular. Ligada durante mais uma década à ILGA Portugal, que presidi, da qual fui a primeira e única presidenta, sou lésbica e sim, tenho orgulho na forma como não me escondo. Já não me escondo há mais de metade da minha vida.
Se tivesse que escolher apenas uma palavra para me definir, talvez fosse “feminista”. Acho que cabe tudo aqui, em nós.
Margarida Lima Rego
Cidadã do mundo nascida em Lisboa, filha da revolução, irmã quase gémea da nossa Constituição. Amo a liberdade mas em igualdade. Também não desgosto da fraternidade, embora lhe prefira o respeito pelo próximo enquanto ser digno e igualmente livre. Gosto de moderação, tenho um fraquinho pela necessidade, proporcionalidade e adequação. Sou defensora acérrima da laicidade, só assim, sem mais. Fiz-me jurista, ainda para mais civilista. Sou mãe de uma filha e de um filho. Dedico-me à academia de alma e coração, exerço advocacia com convicção. Profissionalmente ando muito pelos mercados financeiros. Para me redimir, faço por intervir em defesa de algumas causas das gentes, pessoas de carne e osso. Acredito que a justiça é um ideal que me chama de várias maneiras diferentes. Nasci feminista, como toda a gente. Tive a sorte de assim permanecer. Com o passar dos anos, a minha consciência de género foi ganhando consistência. Nessa causa cada vez mais me empenho. Tento dar-lhe o que tenho, incluindo algum mau feitio.
Paulo Côrte-Real
Nasci na segunda metade de 1974 e costumo dizer que já nasci livre, mas não é bem verdade – porque a liberdade, para mim, pressupõe igualdade.
No final do século passado, o doutoramento em Economia em Harvard levou-me a viver nuns Estados Unidos onde me descobri mais livre enquanto homem gay. Desde então, e já por cá, faço de Professor Universitário e sou Ativista – pelos Direitos Humanos e contra as discriminações, em particular no campo do género e da orientação sexual.
Já tive cargos vários na ILGA Portugal, na ILGA-Europe e na Amnistia Internacional Portugal, mas sobretudo marcaram-me as campanhas em que participei e que senti que tiveram impacto direto no bem-estar de muitas pessoas. Gosto muito de pessoas, tenho essa mania.
E, sim, sou ansioso. Ao longo do meu percurso como ativista, sempre me perturbou a lentidão com que as coisas mudam – sobretudo no campo do género. Enquanto feminista, quero fazer o tempo andar mais depressa.
Luisa Corvo
Luisa Corvo, logo do início de 60, das Ciências exatas que de exatas pouco têm.
Direta e sucinta, mais da palavra dita e imagem que da escrita. Feminista convicta. Ativista dos direitos humanos.
Com um percurso iniciado nos anos 90, com a Revista Lilás, e duas décadas de Associação Ilga Portugal com participações ativas em várias plataformas como por exemplo, a Marcha Mundial das Mulheres e a Plataforma Direito de Optar, Solicitei uma sabática que agora revogo.
À luz dos acontecimentos nacionais e internacionais dos últimos tempos é um desígnio voltar à intervenção ativa: igualdade de género e direitos das mulheres. É uma paixão!
Miguel Vale de Almeida
Miguel Vale de Almeida: est.1960. A cirandar entre a antropologia, a academia, a política, o ativismo, a opinião e (alguma) criatividade – e a divertir-me e a aprender muito nessa dança. Otimista impenitente. Um bocadinho obcecado com as desigualdades de género, sexuais e étnico-raciais, confesso. Com vidas paralelas nos EUA, Brasil, Catalunha e Israel/Palestina, é aqui em Portugal que acho haver tudo para se poder construir uma Comunidade decente. Ah – e é preciso dizê-lo? – sou um homem por acaso gay e de propósito feminista. Até às paredes confesso.